domingo, 21 de junho de 2015

TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO.

De acordo com os defensores do projeto, a transposição tem como base resolver o problema da falta de água do semiárido nordestino, todavia os críticos deste projeto detêm-se a uma discussão sobre os méritos de sustentabilidade do atual projeto e defendem uma transposição socialmente sustentável.

Mas seria a estiagem no Nordeste algo recente? Ou seria um problema persistente e já muito mais antigo do que supomos? As grandes secas existentes no nordeste perduram durante grandes períodos. No século XVIII, entre os anos de 1777 a 1779, a falta de água no semiárido nordestino trouxe grande preocupação para a Corte Imperial. Foi um período de grandes impactos para as famílias nordestinas, pois milhares de vidas estavam sendo ceifadas devido à falta de reserva de água.

Foi em 1820 que D.João VI perante está situação drástica, sentiu a necessidade de abrir um canal do rio São Francisco para Jaguaribe, já considerando a falta de recurso hídrico que o Nordeste podia vir a sofrer. Os sertanejos com toda a sua criatividade criaram pequenos barramentos no leito do rio e nos seus afluentes para juntar água. Nos países asiáticos esse processo já era bem conhecido, já existiam açudes de reserva de águas construídos com técnicas bem elaboradas. 

Como não tínhamos meios de comunicação com esses povos, nada sabíamos por aqui. Os açudes surgiram em grande escala em inúmeras propriedades, sendo uns pequenos e outros grandes. Devido à forte radiação solar os sertanejos tinham uma técnica de proteger as suas águas contra a evaporação. Em função da seca de 1877 a 79 no período imperial, na segunda metade do século XIX, nasce com a comissão Cientifica de Exploração, chefiada por (Barão de Capanema) a proposta política de construções de açudes e a integração do rio São Francisco aos rios do nordeste setentrional.

Foi nessa seca avassaladora que houve uma emigração em massa de nordestino para a Amazônia em busca de melhor condição de vida. Foi um desastre social de grande escala morrendo aproximadamente mais de 500.000 mil vidas em toda a região do Nordeste. A partir desde desastre que diversos setores da sociedade e o Poder Público, perceberam a importância dos açudes como solução para salvar vidas. Os reservatórios tinham novas técnicas e melhoravam a cada dia. Desta forma o povo nordestino tentava resgatar e construir uma nova vida no sertão brasileiro.

Já no século XX a infraestrutura hídrica teve um grande crescimento, a partir desse momento, as estratégias das construções dos açudes, foram bem elaboradas na intenção de amenizar o impacto. Não sendo o nordeste tão vulnerável a seca como era antigamente. Hoje devido os rápidos meios de comunicação, a facilidade de locomoção, as redes de açudes construídas ao longo do século XX, e a facilidade de interligação entre as regiões; remete-nos a um Nordeste bem desenvolvido, desconstruindo a imagem chocante da seca no qual pertenceu ao seu passado.

O RIO SÃO FRANCISCO:
Essa bacia hidrográfica mais conhecida como Rio São Francisco, também conhecido como rio da integração nacional, possui 2800 km de extensão. Nasce na serra da Canastra, em Minas Gerais, cortando mais de quatro Estados da região do Nordeste, sendo eles; Bahia e Pernambuco e desemboca no oceano atlântico entre Sergipe e Alagoas. No seu leito se apresentam 1.800 km de área. O rio leva esse nome devido ter sido descoberto por Américo Vespúcio em outubro de 1501, dia de são Francisco, um ano antes do descobrimento do Brasil. O rio era tão caudaloso, que os indígenas deram o nome de Opará, que significa “rio-mar” nome esse característico, porque durante séculos seguidos as forças de suas águas eram tão fortes que avançavam vários quilômetros oceano adentro. É considerado o terceiro maior rio dos pais, tendo vazão media de aproximadamente 2.850 m³/s, engloba regiões que apresentam condições naturais bem diversificadas, a parte superior e inferior da bacia, apresentam bons índices pluviométricos e fluviométricos, enquanto os seus afluentes atravessam áreas de climas seco e semiárido. Em Minas Gerais na nascente do rio tem um grande potencial agrícola, especialmente para a agricultura irrigada.

A OBRA:
Maior obra de infraestrutura hídrica do país, a transposição do São Francisco é uma obra chave para o governo, que refuta críticas de que a água pode ir parar em grandes fazendas, beneficiando o agronegócio. Segundo o Ministério da Integração Nacional, a prioridade é o consumo humano e animal. A água está programada para chegar a 23 açudes e 27 reservatórios e vai, ainda, abastecer rios que hoje ficam secos em boa parte do ano. O objetivo é garantir a segurança hídrica do semiárido, com represas cheias mesmo em tempo de seca.

O objetivo da Transposição é levar água para mais de 12 milhões de moradores de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. O relatório de execução física de julho de 2014 mostrava que o empreendimento estava 62,4% concluído. As obras seguiam então com 11.400 trabalhadores e mais de 3.900 máquinas em ação. A obra, orçada em R$ 8,5 bilhões, tem dois longos canais. O Eixo Leste beneficiará Pernambuco e Paraíba e o Norte levará água para esses Estados, o Ceará e Rio Grande do Norte. A obra começou em 2007, na gestão Luiz Inácio Lula da Silva, orçada em R$ 4,5 bilhões. O Eixo Leste deveria sair em 2010 e o Norte, em 2012. O funcionamento da primeira etapa da obra foi adiado em dois anos, para até setembro de 2016.

FATOS:
Já se coloca em dúvida se um dia a obra terminará e, ainda mais grave, vai se confirmando a denúncia da ineficácia da transposição para levar água aos que mais dela precisam, pois nenhum agricultor que, hoje, recebe água do carro-pipa receberá água da transposição desse rio, porque a água vai escoar em grandes rios, vai para as maiores barragens da região e será utilizada pelo agronegócio. 

A obra se transformou num mico nas mãos de Dilma, uma das heranças malditas deixadas por Lula. Na opinião de João Suassuna, engenheiro-agrônomo e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, de Recife, a transposição caracteriza-se como um “projeto tecnicamente ruim, socialmente preocupante e politicamente desastroso”.

Alguns especialistas afirmam que o projeto é socialmente injusto porque vai beneficiar um pequeno grupo, enquanto que projetos alternativos podem beneficiar quase toda a população do Nordeste do semi-árido. É ecologicamente insustentável porque, enquanto o projeto de transposição agride a realidade do Rio São Francisco, os projetos alternativos são altamente sustentáveis. E a transposição é eticamente inaceitável porque é mentirosa, enquanto os projetos alternativos estão aí para poder atender as necessidades do povo.

A transposição do São Francisco até o momento foi boa apenas para a indústria da seca. A indústria da seca é uma espécie de colonialismo que predomina no Nordeste há séculos. Quer dizer, os projetos para distribuir água no Nordeste são pensados fora da região e têm a intenção de capturar recursos públicos. O Programa de Açudagem do Nordeste mostra isso. As obras pensadas para o Nordeste são descoladas de um plano de desenvolvimento e têm um fim em si mesmas.

O governo e as empresas querem construir o maior açude possível no Nordeste e depois pensar o que será possível fazer com ele. Para funcionar, a transposição do rio precisa de mais investimento. Além disso, durante o período em que a obra ficou parada, os canais construídos se arrebentaram e terão de ser refeitos. Portanto, essa é a estratégia das elites do Nordeste: criar um projeto de desenvolvimento para se apropriarem de recursos públicos.

O impacto causado nas comunidades indígenas e quilombolas: comunidades quilombolas impactadas são 50 e povos indígenas nove. As demarcações de seus territórios foram emperradas, patrimônios destruídos. No caso dos Truká, em Cabrobó – PE, em cuja área o Exército iniciou o Eixo Norte, o território já identificado é demarcado se aceitarem as obras. No caso dos Tumbalalá, em Curaçá e Abaré – BA, na outra margem, se aceitarem a barragem de Pedra Branca. Ainda não foi demarcado pela FUNAI o território Pipipã e concluído o processo Kambiwá, a serem cortados pelos futuros canais, ao pé da Serra Negra, em Pernambuco, monumento natural e sagrado de vários povos. Muitas destas comunidades resistem. Em Serra Negra povoado e assentamento de reforma agrária não admitem as obras em seu espaço.

Empregos precários e temporários: como sintetizou o cacique Neguinho Truká, “os empregos foram temporários, os problemas são permanentes”. Em Cabrobó, nada restou da prometida dinamização econômica, só decepção e revolta. Nas cidades por onde a obra passou ficou um rastro de comércio desorientado, casas vazias, gente desempregada, adolescentes grávidas…

P.S.:
Publiquei este post a pedido de um leitor, que cobrou da página uma postura a respeito do assunto Transposição do Rio São Francisco. Como eu sempre faço nas minhas publicações, me preocupei antes de mais nada, em trazer informações e fatos que a mídia não mostra, e que portanto muitas vezes escapam à atenção dos leitores. Não falei em corrupção, prevaricação, empreiteiras, licitações, etc; isso a mídia mostra o tempo todo. Eu não pretendo com meu post cobrar um posicionamento do PT, mas sim do governo, e das empresas por ele contratadas. Para mim, uma legenda é simplesmente outra forma de nos iludir de que temos escolha. 

E é por isso que eu não gosto de escrever sobre política nacional. Eu não voto. Eu não justifico. Eu não pago multa. Meu CPF é bloqueado. Eu não tenho cartão de crédito. Não tenho conta em banco. Não tenho passaporte. Não declaro renda, nem mesmo como isento. Acho que nem meu nome, tá no meu nome. A minha participação na política nacional é praticamente nula. Com raras exceções, como esta...

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Um comentário:

  1. Só tenho a elogiar esta importante matéria informativa que nos oferecestes. Estamos sempre sendo de alguma forma ludibriados e utilizados como massa de manobra nas mãos dos detentores do poder.

    Concordo plenamente que não importa quem está no poder político pois o sistema é todo igual e por isso é opressivo, desumano e sem caráter.
    Caminhamos infelizmente ainda lentamente para uma reforma política em que possamos alterar esta lógica voraz. Alguém acredita que se o resultado da ultima eleição presidencial fosse diferente a situação hoje seria diferente? Alguém acredita que ambos os candidatos que chegaram ao segundo turno não sabiam da crise econômica que havia já chegado e estava escondida da população? Mesmo assim não vi ninguém dizendo que passaríamos por esta penumbra que estamos sofrendo atualmente. O que muda no máximo são as moscas... pois o coliforme fecal permanece o mesmo. Pra mim o coliforme fecal é o sistema político como um todo. infelizmente isso só vai ser mudado gradualmente, pois ninguém corta as próprias pernas de forma consciente.

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