quinta-feira, 25 de junho de 2015

PRINCÍPIO DA EXCEPCIONALIDADE AMERICANA.


Normalmente, quando eu escrevo a respeito dos EUA, não é coisa boa. E o resultado oriundo do debate também costuma ter aspectos bastante negativos, como se eu tivesse culpa de os americanos serem a ponta de lança da Nova Ordem Mundial e seus mantenedores. Certas pessoas acham que iraquianos, iranianos, afegãos, líbios, vietnamitas, coreanos, africanos em geral, odeiam os americanos porque estes são livres, ricos e moralmente mais avançados. Bem, sinto informar, mas o motivo do ódio é mais simples: é porque os americanos atravessam meio mundo para criar guerras, vencê-las de qualquer forma (inclusive financiando ambos os lados de uma mesma querela), e depois permitir que a população permaneça sendo oprimida pelo ditador que foi previamente selecionado pelos americanos.

Isso em si já seria bem grave. Mas fica ainda pior quando os americanos realmente creem-se no direito de intervir em qualquer país, livre ou sob sistema ditatorial. E essa crença se baseia justamente na visão míope de que os americanos são verdadeiramente melhores. Hã, alguém já viu esse filme antes? Mas vamos aos fatos.

Barack Obama recordou a excepcionalidade dos EUA no fim do seu discurso à nação, quando o líder norte-americano tentou garantir o apoio dos eleitores a um possível ataque à Síria. A referência à “excepcionalidade” não provocou nenhuma reação especial por parte dos seus ouvintes, exceto talvez de alguém mais sentimental que tenha vertido uma lágrima ao ouvir falar mais uma vez da “missão especial” da América.

A crença profunda dos americanos no excepcionalismo dos Estados Unidos não costuma guiar decisões específicas de política externa, mas tende a conduzir a diplomacia dos EUA por três caminhos: repulsa a revoluções conduzidas por povos estrangeiros de “cabeça quente” que não conseguem imitar com sucesso o exemplo de uma revolução americana, supostamente organizada e moderada; isolamento em relação a conflitos e casos de corrupção em países moral e politicamente inferiores; ou esforços ambiciosos e caros para remodelar países estrangeiros à imagem dos Estados Unidos.

Aliás, o próprio Barack Obama é um refém do mito americano. Durante a sua campanha eleitoral o candidato a presidente defendia um ponto de vista algo diferente. Na época Obama afirmava que acreditava na excepcionalidade americana, mas que esta em nada era diferente da “excepcionalidade britânica”, da “excepcionalidade grega” ou de qualquer enaltecimento patriótico idêntico de qualquer outro país. O candidato foi então bastante criticado e por isso mudou rapidamente de discurso.

As raízes dessa ilusão inocente que vivem os cidadãos dos EUA remontam aos tempos dos primeiros colonos. A ideia de “excepcionalidade” obteve depois um novo fôlego nos anos de 1980 com Ronald Reagan. Ele falava da América como de “uma cidade luminosa no cume de um monte” e estava convencido que ela era um exemplo único da vitória da liberdade e da esperança. Já nos últimos 20 anos, com o desmoronamento da URSS, a “singularidade” dos EUA já não podia ser contrariada por ninguém.

Desde o final do século 19, os americanos definiram o excepcionalismo dos Estados Unidos por meio de contrastes com a Rússia – seja em seu modelo tsarista, soviético ou pós-URSS –, mais do que por meio de comparação com qualquer outra nação. Essa tendência muitas vezes contribuiu para representações carregadas e emotivas na mídia, além de ataques ad hominem aos líderes russos por políticos americanos, o que dificulta a manutenção dos interesses comuns entre Washington e Moscou.

Os russos, por sua vez, fazem o mesmo jogo: afirmam a sua superioridade moral pelas diferenças com os Estados Unidos, usando o materialismo e o imperialismo como suas principais armas de contestação. No passado, também se gabavam de que diferentes países (Cuba, Etiópia etc) estavam seguindo o seu exemplo exclusivo e brilhante. No entanto, desde o fim da União Soviética, os líderes russos se libertaram de tal ilusão ideológica e, no século 21, tendem a se concentrar nos interesses nacionais russos. Um exercício a ser praticado por ambos os lados.

Afinal, sendo todos iguais, e detentores dos mesmos direitos e deveres, somos todos excepcionais. Com base nisso, qualquer país estaria escusado de cometer atrocidades das mais diversas, tendo por base suas singularidades. Por isso publiquei os banners do Papa Francisco, do Hitler e do Netanyahu. Cada um deles, a grosso modo, política ou institucionalmente, tendo por base seu sistema de crenças morais, sociais e religiosas, poderia alegar o princípio da excepcionalidade para amparar seus atos belicosos.

Acho que nenhum país tem o direito de invadir outro. E vou além. É ainda pior quando um país cria todo um cenário que propicie e instigue uma interdição. E este é exatamente o caso dos EUA. Vou dar uma pequena lista, onde constam alguns poucos, dos diversos planos secretos da CIA, FBI e NSA, para desestabilizar países, eliminar líderes, coagir testemunhas ou simplesmente testar substâncias em larga escala. Inclusive em solo americano. The Canadian Experiment; Operation Midnight Climax; Operation PBSuccess; Operation Mockingbird; Operation Northwoods; Operation Popeye; Plum Island Animal Disease Center; e por aí segue, com os americanos mentindo, assassinando, invadindo outros países com o intuito único de perpetuar sua máquina de guerra, ou agindo em seu próprio território para ocultar seus rastros. Um país que investe trilhões de dólares nas Forças Armadas, obrigatoriamente precisa lutar para não ir à falência.

E alguns ainda me dizem que os americanos são as maiores vítimas de seu próprio sistema, chegando ao cúmulo de escrever que a tortura e os estupros em Guantanamo foram descuido, azar, e que os americanos não têm culpa pelas ações de seu governo. Talvez estas pessoas não saibam, mas nos EUA também tem eleições, ou seja: O POVO ESCOLHE SEUS REPRESENTANTES! 

"Ah, mas a culpa é do governo, que dá as ordens para o exército. A culpa não é do povo"; hã, o exército americano por acaso é composto de estrangeiros? NÃO, O EXÉRCITO AMERICANO, PASMEM, É FORMADO POR CIDADÃOS AMERICANOS! E, tipo, gente, o próprio governo americano vem liberando o acesso a informações sobre planos e projetos confidenciais perpetrados pelos serviços secretos norte-americanos. E isso que esta liberação é ínfima, em quantidade e qualidade das informações! Chega a ser cômico, têm páginas que simplesmente estão quase que totalmente censuradas, completamente rasuradas, onde se lê meia dúzia de palavras e nenhum nome ou cargo é visível.

O fato é que os americanos, se valendo de sua pretensa excepcionalidade, ainda assim escolhe a dedo os países que pode "usufruir" da liberdade e do american way of life. Coincidentemente, estes países tendem a ser pequenas republiquetas ou regimes despóticos previamente estabelecidos e equipados pelos próprios americanos.

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