quinta-feira, 18 de junho de 2015

APÓCRIFOS: O Livro de Esdras.

O Apocalipse de Esdras é um texto que reclama ter sido escrito por Esdras, mas que certamente foi escrito muito tempo depois; a sua datação é bem controversa, indo desde o 2º século d.C. até o 9º século d.C. O seu texto se baseia fortemente em outro apócrifo mais antigo conhecido como II Esdras (IV Esdras na vulgata ou III Esdras para os ortodoxos russos). O texto mostra o autor tendo visões do céu e do inferno, onde as punições a que são submetidos os pecadores são descritas em detalhe.

As opiniões eclesiásticas através de várias épocas tem diferido quanto ao valor dessa literatura. Os judeus da dispersão no Egito revelaram alta estima por estes escritos e os incluíram na tradução do Antigo Testamento para o grego, chamada de Septuaginta, mas esses mesmos escritos foram eliminados do canôn hebraico pelos judeus da Palestina. Jerônimo no ano de 405 d.C. incluiu-os também em sua tradução latina do Antigo Testamento, chamada Vulgata, porque lhe fora ordenado pelos líderes da Igreja Católica Romana, mas recomendou que esses livros não fossem usados como base doutrinária.

Os reformadores foram em parte os grandes responsáveis pela eliminação dos apócrifos da Bíblia, por haver neles elementos inconsistentes com a doutrina protestante. Entretanto, em 1546, no Concílio de Trento, a Igreja Católica Romana proclamou alguns livros apócrifos como canônicos detentores de autoridade espiritual para seus fiéis, excluindo apenas os dois livros de Esdras e a Oração de Manassés.

Os judeus deram, pois, à história um significado transcendental e, por isso mesmo, uma importância fundamental. Conceberam-na como o cenário em que Yahweh realiza suas ações em sua relação com seu povo. Isto se deveu, em parte, pela natureza específica do conteúdo a ser lembrado pelas futuras gerações de judeus: os feitos de Yahweh. Estes não são passíveis de repetição, daí a importância de preservar na memória os eventos mais importantes do ponto de vista da religião. Para os judeus lembrar era um dever religioso. As futuras gerações deveriam conhecer, por meio da memória, a aliança de Yahweh com seu povo.

É uma grande e deslavada mentira o que se afirma por aí que os livros ditos apócrifos eram leitura de pequenas comunidades isoladas e que “naturalmente” foram deixadas de lado por não conterem a inspiração divina. Que os livro sinóticos (contidos na Bíblia) é que são inspirados pelo Espírito Santo e o restante eram textos de cunho meramente humana, filosófica, com reflexões nascidas unicamente da mente humana. O que ocorreu é que estes livros, incluindo o que é analisado aqui, O Apocalipse de Esdras, contém informações que “subvertem” a ordem estabelecida pelos Donos do Poder e que, para que estes se mantivessem dominando as massas, tais livros foram destruídos (ou quase).

Os evangélicos, ou protestantes, geralmente aceitam os apócrifos como possuindo algum valor histórico, mas rejeitam a sua canonicidade. Por esta razão esses escritos foram eliminados das edições evangélicas da Bíblia. Os argumentos são os seguintes:

1- Nunca foram citados por Jesus (Jesus citou todos os outros livros do VT), e duvida-se que os apóstolos tenham feito alusão a eles.

2- A maioria dos primeiros pais da igreja os consideram como não inspirados.

3- Não aparecem no canôn hebraico antigo.

4- Quando comparados aos canônicos, os livros apócrifos por sua qualidade inferior se revelam como indignos de ocupar um lugar nas Escrituras Sagradas.

LINK PARA DOWNLOAD DO LIVRO DE ESDRAS:

Deixo aqui algumas dicas para leitura, se alguém desejar ampliar o conhecimento na referida área, ou mesmo para melhor embasar uma opinião:

ASHERI, David. O estado persa: ideologia e instituições no Império aquemênida. São Paulo: Perspectiva, 2006.

BARON, Salo. História e historiografia do povo judeu. São Paulo: Editora Perspectiva, 1974.

CARR, Edward. Que é História? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.

JOHNSON, Paul. História dos judeus. Rio de Janeiro: Imago, 1995.

KOSELLECK, Reinhart. Futuro passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto, PUC, 2006.

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: UNICAMP, 2003.

MOMIGLIANO, Arnaldo. As raízes clássicas da historiografia moderna. Bauru: EDUSC, 2004.

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