quarta-feira, 17 de junho de 2015

DISNEY: O incrível mundo da erotização infantil.



A primeira coisa que precisa ser compreendida, é que em uma produção cinematográfica, seja em película ou digital, seja animação ou com elenco "real", nada aparece em cena sem querer. Não existe pareidolia no cinema. Não existe acaso. Não existem coincidências. Elas são criadas, elaboradas e inseridas dentro de um contexto oculto através de imagens precisamente colocadas para serem percebidas pelo subconsciente, com percepção sensorial, mas que não desperte uma reação consciente do espectador. Pelo menos, imediatamente.

Vou dar exemplos, além daqueles que apresentei no banner:

*Pequena Sereia; durante o casamento, a genitália do bispo aparece claramente, um gritante volume por baixo das roupas. Existem mensagens subliminares no desenho e uma certa polêmica também foi gerada com a capa. Há um órgão sexual masculino que é uma das torres do palácio.

*Bernardo e Bianca; são encontradas duas cenas onde uma mulher nua aparece numa janela. A cena é clara e inconfundível, porem não pode ser percebida simplesmente ao assistir o desenho de forma normal, a mensagem está contida apenas em dois frames, é necessário pausar a exibição ou colocar em câmera lenta.

*Toy Story 2; um momento em que os personagens estão trocando de canal muito rapidamente. Nesta hora não é perceptível o que está passando na tela da TV, porem se colocarmos em câmera lenta, notaremos cenas bastante estanhas. Em um canal está passando uma mulher semi-nua de seios avantajados, que faz gestos obscenos. Em outro vemos explosivos e um personagem torturando e matando um outro personagem menor. 

Existem ainda imagens e mensagens com temática sexual em Uma Cilada Para Roger Rabbit, Alladin, 101 Dálmatas, O Rei Leão, Hércules, e quem sabe quantos mais! Isso tudo não aparece nos filmes e desenhos "sem querer", ou acidentalmente. Cada cena é cuidadosamente desenhada, filmada com total respeito aquilo que consta no script e no roteiro. Se o bispo mostra claramente que tem um pênis, esteja ele ereto ou flácido, pouco importa, é porque o bispo foi idealizado desta forma. Se existe uma torre de castelo que se "assemelha" a um pênis, isso não se deu por azar ou sorte, mas sim porque a torre foi "construída" desta forma. Se aparece uma mulher nua, em formato de fotografia real, em um mundo totalmente artificial de um desenho animado, a foto não está fora de contexto, ela foi colocada no fundo para ser vagamente percebida.

Isso precisa ficar muito claro, pois a compreensão de que não existem desculpas aceitáveis para permitir estas manipulações é a mola propulsora para percebermos o quanto nossas mentes sofrem danos colaterais. Outro exemplo, como nos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, as pré-adolescentes não recebiam muita informação sobre sexualidade humana, o que poderia causar espantos em muitas delas quando a primeira menstruação chegava. O assunto ainda era um tabu para as mães conversarem com as suas filhas, mas a Disney teve uma ideia para mudar essa situação de uma forma educativa e leve para as meninas. Já seguindo uma série de curtas-metragens educativos sobre doenças e cuidados de higiene, a Disney resolveu mostrar como os corpos das meninas se desenvolviam em uma produção que seria veiculada nas escolas. Batizado como A história da menstruação, o curta foi patrocinado pela marca International Celucotton Kotex (empresa que mais tarde se tornaria a Kimberly Clark) e já fabricava produtos de higiene feminina. O filme de 10 minutos foi amplamente distribuído e visto por milhares de estudantes até 1960. Essa foi, inclusive, a primeira vez que a palavra “vagina” foi mencionada em uma produção cinematográfica.

A infância é um período de grande desenvolvimento físico e, mais do que isto, é quando o ser humano desenvolve-se psicologicamente, envolvendo graduais mudanças no comportamento da pessoa e na aquisição das bases de sua personalidade. Há no ser humano uma mola propulsora básica, a energia sexual, denominada de libido. A libido é uma energia afetiva voltada para a obtenção do prazer e está sempre presente no ser humano, do nascimento até a morte. 

Cada fase psicossexual atua no desenvolvimento da personalidade de um modo específico e caracteriza-se pela predominância de especial interesse e da sensibilidade por determinada zona erógena. Essas zonas erógenas caracterizaram as fases do desenvolvimento oral, anal, fálica, de latência e genital. As primeiras referem-se ao desenvolvimento infantil e a última ao adolescente e ao adulto. 

A questão sexual está indiretamente vinculada ao consumo. No lugar da criança encontra-se hoje um mini adulto super-informatizado e, principalmente, meninas-mulheres, que frequentam salões de beleza, dançam funk e usam sapatinho de salto alto. As informações que chegam aos lares, através da mídia, em forma de novelas, reportagens, programas de entretenimento e propagandas televisivas ressaltam a sexualidade e o corpo erotizado. Por conta disso, as crianças e adolescentes também ficam mais expostos a estas informações. As crianças e adolescentes ingressam na vida sexual ativa mais cedo, comparando-os com os das décadas anteriores. 

A infância é uma fase muito importante da vida, pois é nela em que o humano se desenvolve psicologicamente, sofrendo graduais mudanças em seu comportamento e adquirindo as bases para formação de sua personalidade. Além disso, a libido sexual está presente desde o nascer até a morte de um ser humano. Se os produtos/serviços destinados às crianças contêm apelo erótico/sensual, isso significa que o mercado (por meio do marketing) e a sociedade como um todo estão colaborando para a redução (ou eliminação) da fase infantil, imprescindível para a formação de um adulto saudável psicologicamente. O ingresso do apelo sexual nesta fase da vida, em que ainda não se tem maturidade para julgar o que é certo e errado, pode trazer consequências que podem afetar a formação de sua personalidade o seu comportamento adulto futuro. 

Como tantas outras, a história da erotização infantil é daquelas em que não se consegue delimitar um início, um meio e, muito menos, um fim. A partir das perspectivas que adotamos, quais sejam: Estudos Culturais e Estudos de Gênero, histórias são contadas e recontadas, construídas e reconstruídas, interpretadas e reinterpretadas dependendo dos lugares onde se posicionam aqueles/as que, de alguma forma, se interessam por determinadas histórias. 

Graças ao "Tio Walt", hoje, as meninas aprendem que o mérito delas está na capacidade de sedução. Muitas revistas voltadas para o público feminino infanto-juvenil chegam a veicular reportagens cujo principal assunto volta-se para as armas de sedução de que meninas e adolescentes devem se valer em um momento de conquista. Dentre tais armas, o embelezamento pode ser apontado como a mais eficaz num jogo de sedução.

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