quarta-feira, 17 de junho de 2015

BANCOS: Os donos do dinheiro e o ciclo do crédito.



A esmagadora maioria do dinheiro atualmente existente está nos bancos ou passa pelos bancos. O dinheiro pode existir como moeda ou não passar de números lançados em livros virtuais de balanço digital. Na verdade, a maior parte do dinheiro existente é imaginário – a lei autoriza os bancos a criar esse dinheiro sem correspondência com a moeda ou qualquer outro meio de garantia.

Os bancos aglomeram-se, fecham, desaparecem. E os governos ainda criam programas de ajuda para estas instituições. Os bancos cobram quantas tarifas quiserem e nos valores que quiserem. E isso tudo para usar o nosso dinheiro, que é emprestado a juros astronômicos, gerando lucros fabulosos.

Paga-se para ter um cartão magnético, que é só o que o banqueiro quer que a gente use para movimentar o nosso dinheiro – ele não quer mais que os clientes utilizem os caixas, como sempre se fez. Não. Hoje, o banqueiro quer empregar o mínimo possível de funcionários, e isso inclui os caixas. Agora os bancos querem que a gente use apenas os caixas automáticos para movimentar o nosso dinheiro, muito mais baratos para o banqueiro. O que não seria de todo ruim, se houvesse um número razoável de caixas automáticos, se todos esses caixas funcionassem bem (e sempre), se esses caixas tivessem para saque as notas que o cliente (dono do dinheiro) precisa, se os pagamentos programados nunca falhassem e se esses comprovantes fossem aceitos por todos os agentes econômicos (como gostam de dizer os economistas).

Os bancos aceitam correntistas se quiserem (para usar o nosso dinheiro), estabelecem as normas que quiserem, discriminam quem e quantos quiserem, cobram estacionamento do cliente que vai ao banco para tornar o banco mais rico, etc. Quando um cliente do banco pede um empréstimo, o banco usa o dinheiro depositado por outros clientes para conceder esse empréstimo. Sobre o empréstimo cobra juros.

Este processo de sacar dinheiro do devedor tem diversos nomes em diferentes línguas; alguns desses nomes são bastante mais explícitos do que a expressão portuguesa juros: assim acontece com as expressões rent e interest. De fato, o banqueiro apenas empresta dinheiro na medida do seu interesse em sacar uma renda sobre todo o dinheiro existente (o dele e o dos outros). Se este interesse fosse proibido por lei, o banqueiro fecharia a loja e iria dedicar-se a uma atividade produtiva.

Recapitulemos: dinheiro emprestado provém inicialmente de alguém (os depositantes) e é emprestado a um devedor. Seria lógico pensar que o depositante donde provém o dinheiro inicial recebesse o juro do empréstimo. Assim aconteceria, naturalmente, se o banco não existisse como entidade intermediária e o empréstimo fosse feito diretamente entre quem tem um excedente e quem precisa de liquidez (=dinheiro).

No entanto, ao instituir-se como intermediário do negócio, o banco arrecada a renda de interesse (o juro) que deveria caber ao depositante. Mas o banco não paga também juros ao depositante? Na verdade esses juros são calculados de forma a serem muitíssimo inferiores ao juro de empréstimo e a permitirem uma grande margem de lucro ao banco; na maioria dos casos os juros de depósito reduzem-se a uma percentagem centesimal insignificante; no caso dos salários normais, mensalmente depositados no banco, ou das pequenas poupanças, a renda do depositante acaba por ser negativa, porque os bancos cada vez cobram mais taxas e serviços ao depositante. O depositante médio tem de pagar para pôr o seu dinheiro no banco e usar os respectivos serviços de pagamento virtual.

De modo que na prática a situação é esta: o banco cobra uma renda por guardar o dinheiro da esmagadora maioria da população e das empresas (todos eles legalmente obrigados, de diversas formas, a usar os serviços bancários); o banco usa o dinheiro alheio para conceder crédito e através do crédito o banco cria mais dinheiro (que considera seu). Perante este ciclo do crédito, é fácil de compreender que os bancos se considerem donos de todo o dinheiro existente.

Como já vimos, o banco central toma nota da quantidade de dinheiro depositada nos bancos privados e permite-lhes que emprestem até cerca de 9 vezes esse dinheiro. Existe portanto uma enorme quantidade de dinheiro a ser constantemente fabricada, a render juros e, pelo menos virtualmente, em circulação no mercado, mesmo que não tenha correspondência pecuniária (=não possa ser traduzido em moeda, sendo apenas virtual).

Mas cada empréstimo tem um prazo de maturidade (time-out) – ou seja, um tempo ao fim do qual o capital inicial do empréstimo mais os respectivos juros são integralmente reembolsados ao banco. Passado esse prazo, o dinheiro desaparece de circulação.

Ora, dinheiro a desaparecer de circulação é mau negócio para os bancos. Por isso eles têm de encontrar renovadas formas de emprestarem continuamente, para que o dinheiro virtualmente criado não desapareça e eles, os bancos, não vão à falência.

Além disso, a quantidade de dinheiro (real ou virtual) em circulação determina a quantidade total de meios de pagamento que todos nós possuímos e portanto a quantidade de transações que podem ser feitas. Como veremos a propósito da inflação, essa quantidade total de dinheiro determina também o preço dos produtos e serviços (incluindo o próprio dinheiro).

No entanto, estranhamente, a quantia total de transações de um país não fornece qualquer indicação acerca do valor acrescentado nem da quantidade de bens e serviços produzidos no país. Todas as transações dependem do interesse de cada uma das partes. Se eu tiver um carro mas achar mais interessante ter dinheiro, e se tu tiveres dinheiro mas achares mais interessante ter um carro, estão criadas as condições para efetuarmos uma transação – toma lá o carro, passa para cá o dinheiro.

Isto é possível porque: alguém produziu o carro e o pôs no mercado; alguém fabricou o dinheiro e o pôs no mercado. Se todo o dinheiro desaparecer do mercado, já não será possível efetuar este tipo de transações, terá de ser criado outro processo de fazer circular os bens e serviços. Se a produção de carros ou qualquer outro tipo de bens e serviços cessar, cessa de vez a circulação de produtos e a transação; o dinheiro passa a valer zero, porque já não pode representar nada, nem sequer a si mesmo, porque deixa de haver interesse.

Este simples fato permite compreender a força infinita dos trabalhadores e dos consumidores. Se, de repente, todos os trabalhadores do mundo deixassem de produzir bens e serviços, o dinheiro, e portanto os bancos, deixariam de fazer qualquer sentido.

Isto acontece da mesma forma que, se todos os consumidores do mundo deixarem de comprar uma determinada máquina por a considerarem demasiado poluente e prejudicial ao ambiente coletivo, nenhum empresário seria estúpido ao ponto de continuar a fabricar essa máquina; procuraria alternativas menos poluentes para vender, continuar a fazer negócio e ter lucros.

O que aconteceria se todos os empréstimos fossem reembolsados?
É bom não esquecermos a noção de valor avançada na primeira parte deste manual: o valor dos bens e serviços mede-se pela quantidade de trabalho neles incorporada → uma parte desse valor é apropriada pelo empresário, a outra regressa ao trabalhador sob a forma de salário → o trabalhador e o empresário são obrigados a depositar o seu dinheiro no banco → o banco usa esse dinheiro para emprestar e fabricar mais dinheiro → o devedor usa o dinheiro para fazer transações (consumir, pagar a renda de casa, etc.) → todo o dinheiro dessas transações passa pelo banco, permitindo-lhe criar mais dinheiro e mais crédito → os créditos são reembolsados, cada qual segundo o seu prazo de maturidade.

Então e se todos os empréstimos fossem reembolsados? – não restaria praticamente nenhum dinheiro em circulação.

Este «perigo» do reembolso total, por um lado, cria a ilusão de que sem crédito a sociedade não poderia funcionar (porque atualmente se confunde sociedade com mercado capitalista); por outro lado, reforça a ideia de que os bancos são os donos do dinheiro.

No caso das dívidas soberanas (e afinal também no caso do crédito ao consumo) é fácil perceber que todo o discurso de "economês" sobre a "sustentabilidade" da dívida, sobre o perigo fatal de incapacidade de pagamento e reembolso, etc., tudo isso não passa de um enorme logro. De fato, a única coisa que interessa às instituições financeiras é que o sistema de crédito continue a funcionar, independentemente de haver ou não capacidade de reembolso.

Qualquer leigo na matéria terá a intuição imediata de que este sistema não é sustentável, isto é, o reembolso da dívida jamais será possível. No entanto os bancos não estão verdadeiramente preocupados com o fato. A única coisa que pode fazer os bancos entrarem em histeria total é um país declarar o encerramento do jogo do crédito.

Nesta altura da exposição dos fatos convém dizer que existem casos muito raros no mundo em que um país não tem dívida soberana externa. Os responsáveis políticos desses países todos os meses recebem telefonemas do FMI e do Banco Mundial, tentando convencê-los da "bondade" e das vantagens de gerarem dívida externa, entrando no ciclo do crédito global e "deixando de estar isolados" a nível mundial. 

Por estranho que possa parecer, nesses países a vida corre normalmente, é possível viver sem o jugo do crédito, e o país não se extingue como por artes mágicas; é, certamente, uma vida diferente daquela que estamos habituados, nem pior nem melhor, simplesmente outra. Curiosamente (ou nem tanto), são esses os países com taxas mais altas de sustentabilidade, tanto econômica como em relação aos recursos naturais, e de conservação do ambiente. 

O cartão de crédito é uma ferramenta que pode ser usada para destruir sua vida financeira ou para facilitá-la. Existem muitas armadilhas envolvendo o uso do cartão de crédito e muito prejuízo poderia ser evitado se todos passassem por algum treinamento antes de receber o primeiro cartão. Uma parte da população não sabe usar o cartão de forma inteligente e são justamente estas pessoas que geram mais lucro para as administradoras e bancos. A ignorância da população é explorada pelas operadoras quando oferecem o crédito rotativo como alternativa vantajosa em seu material publicitário. 

Atualmente 30% do salário dos brasileiros são utilizados para pagar a conta do cartão de crédito. Pesquisas mostram que 76% das famílias endividadas estão devendo a conta do cartão de crédito. Existem 87,5 milhões de cartões de crédito e 106,2 milhões de cartões de débito no Brasil. Por ano são feitas mais de 10 bilhões de transações usando cartão de crédito e débito no país.

O mercado de cartão de crédito no Brasil é trilionário. A estimativa da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços é que em 2015 o volume de transações com cartões continue acima da marca de R$ 1 trilhão. Tal prática pode continuar perpetuamente? Em um ambiente sem um Banco Central, muito difícil, pois, como dito, sempre há o risco de os correntistas decidirem sacar dinheiro. 

Porém, normalmente, o dinheiro que é sacado acaba sendo gasto; ao ser gasto, ele volta a ser depositado em outra conta-corrente, de modo que a alteração final tende a ser nula. Mas vale a pena enfatizar: sacar dinheiro dos bancos e não depositá-lo novamente é um instrumento poderosíssimo para abalar um sistema bancário de reservas fracionárias. E é exatamente aí que entra o Banco Central, garantindo contínuas injeções de reservas bancárias e impressões de dinheiro (via Casa da Moeda) de modo a não abalar a continuidade deste processo.

Em termos práticos, vale ressaltar que foi exatamente este processo de migração de contas e consequente expansão do crédito que aconteceu durante a década de 1920 nos EUA, quando os bancos expandiram o crédito muito além daquilo que imaginava ser possível o Federal Reserve. 

No sistema monetário atual, o processo de criação de crédito é totalmente artificial. Ao contrário do que imaginam alguns românticos, bancos não são meros intermediadores financeiros entre poupadores e investidores. Bancos são criadores de crédito artificial na forma de meros dígitos eletrônicos. Sendo assim, o sistema bancário de reservas fracionárias, em conjunto com o Banco Central, realiza uma tarefa extremamente importante para a popularidade de políticos: ele aumenta artificialmente a renda das pessoas de forma quase imediata. 

Se a expansão do crédito for alta e, por algum motivo estrutural (alta abertura da economia e aumento da produtividade), o aumento de preços demorar a aparecer, o bem-estar das pessoas irá aumentar (temporariamente, até os preços finalmente começarem a subir), e os políticos da situação ganharão com isso. Tal fenômeno foi evidente na primeira metade da década passada nos EUA e na Europa, quando a expansão do crédito bancário levou a um grande aumento da renda ao mesmo tempo em que a inflação de preços se manteve contida durante algum tempo, exceto no setor imobiliário, o que fez a festa de vários especuladores.

Em suma: cada pessoa que mantém seu dinheiro depositado em um banco, e que faz uso de cartões magnéticos para movimentar seu dinheiro, está sendo logrado, enganado, manipulado. E o mais engraçado é que, mesmo sabendo disso, não querem abrir mão do "conforto" que este logro teoricamente lhes traz! São as próprias vítimas da extorsão que a mantém funcionando, enriquecendo pequenos grupos que nada produzem além de dívidas! Sendo assim, indiretamente está auxiliando o sistema a se perpetuar.

Aumento da gasolina, do preço da luz, da água, de tarifas de ônibus; as pessoas saem às ruas para protestar, pacificamente ou não. Sinto informar, mas isso não resolve nada. A política existe para isso, para saciar temporária e seletivamente os anseios da população. O sistema bancário é a raiz de toda a corrupção, pois tudo começa e termina nele. Quer de fato que o sistema se modifique? É necessário bater onde mais dói no sistema, em seu bolso. 

Imagine as pessoas no mundo todo, exigindo seu dinheiro em espécie e cancelando seus cartões de crédito?! Quanto tempo levaria para que os banqueiros pressionassem os governos a modificar sua estrutura política e social? Um ato como este, sim, seria capaz de sacudir as estruturas de poder da elite global. Fora isso, não vejo meios de deter a corrida em direção à barbárie e escravidão... Afinal, a elite tem tudo a seu favor: executivo, legislativo, judiciário, aparato militar e policial, a mídia, controle de doenças, sobre luz, água, alimentos. E é com nosso dinheiro que obtemos tudo isso...

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