quinta-feira, 25 de junho de 2015

TERROR VERMELHO, mortes na Revolução Russa.

De acordo com Stéphane Courtois, "…os regimes comunistas tornaram o crime em massa uma forma de governo". Usando estimativas não oficiais, apresenta um total de mortes que chega aos 94 milhões, sendo que 20 milhões teriam sido mortos somente na União Soviética. Estes cálculos a respeito do número de mortos não são reais ou mesmo verdadeiros; nem mesmos os anticomunistas entram em acordo entre si, além de não terem quaisquer dados estatísticos, contam corpos como quem conta moedas. É possível dar alguma credibilidade aos autores que seguem esta linha historiográfica? 

É um fato universalmente aceito que a Revolução Russa de 1917 produziu um número muito baixo de mortes, menos do que aquelas demonstradas no filme "Outubro", de Sergey Einsenshtein, muito menos mortes do que a Revolução Francesa, de 1789 ou a Revolução Americana de 1776. A guerra civil, entretanto, produziu um número de cerca de três milhões de mortos, uma vez que se tratou da intervenção de quatorze países imperialistas contra a Rússia bolchevista. 

Alegar que "o comunismo matou" pessoas que foram em realidade mortas pelos interventores, assim como a fome resultante dessa guerra, é uma alegação indigna de qualquer credibilidade. Este é o funcionamento do "catecismo anticomunista", tão verdadeiro quanto notas de três reais. O curioso é que mesmo com o "fim do comunismo" não apregoado pela ideologia dos exploradores do povo, a cada ano aparecem novas "vítimas do comunismo", sempre na ordem de milhões, 5, 10, 20... Não é de se admirar se dentro de 10 ou 20 anos, quando o século XX já terá sido esquecido pelas novas gerações, encontrarmos livros falando em "500 milhões" ou "1 bilhão" de vítimas do comunismo. 

Há ainda casos clássicos como o da China, que é sempre "comunista", quando se trata de criticá-la, porém "capitalista" na hora de elogiá-la. Assim é a desonestidade da propaganda anticomunista, absurda para qualquer pessoa racional, mentirosa, frente às estatísticas e impossível, frente à demografia populacional. Denunciar a farsa anticomunista, ideologia nefasta e terrorista, é uma tarefa importante para todos aqueles que defendem uma sociedade livre, democrática e racionalista, que condenam a ignorância e o medievalismo inquisitório de propagandistas. 

Não há consenso entre os historiadores sobre o número de vítimas da repressão nos países do bloco socialista. Alguns põem o número de vítimas muito mais alto do que no Livro Negro, mas outros dizem que o número é mais baixo. Por exemplo, as estimativas para o regime de Stalin na União Soviética vão entre os 20 e os 60 milhões, e os de Mao Tsé Tung na China entre os 19,5 e os 75 milhões. Os autores do Livro negro defendem as suas estimativas para a União Soviética (20 milhões) e para a Europa do Leste (1 milhão) dizendo que usaram fontes que não estavam disponíveis a investigadores anteriores. 

Ao mesmo tempo, os autores reconhecem que as estimativas para a China e outros países ainda governadas por partidos comunistas são incertas, uma vez que os seus arquivos ainda estão fechados. Nos anos recentes alguns autores publicaram estimativas progressivamente maiores das mortes provocadas por regimes comunistas; assim, livros recentes como Mao: A história desconhecida e Um século de violência na Rússia Soviética defenderam números de mortos mais elevados para a China e a Rússia respectivamente. O jornalista Daniel Singer refere também que muitos massacres do século XIX não foram cometidos e defende que as mortes provocadas pela pobreza deveriam em geral ser atribuídas ao capitalismo. 

Conquest, Solzhenitsyn, Medvedev e outros utilizaram-se de estatística publicada pela União Soviética, por exemplo escrutínios nacionais da população, aos quais adicionaram um suposto aumento populacional sem ter em conta a situação real existente no país. Assim chegaram à conclusão de quantas pessoas deveria de haver no país no final de certos anos. As pessoas que faltavam eram apresentadas como mortos e presos à conta do socialismo. Um método simples mas totalmente falso. Este tipo de "revelação" de acontecimentos políticos tão importantes nunca passaria se a "revelação" fosse sobre o mundo ocidental. Nesse caso teria havido com toda a certeza professores e historiadores que se levantariam contra tal falsificação.

Segundo Robert Conquest (numa avaliação feita em 1961) tinham morrido 6 milhões de pessoas de fome na União Soviética no princípio dos anos 30. Este número foi aumentado por Conquest para 14 milhões em 1986. No que diz respeito aos campos de trabalho Gulag, estavam ali detidos, segundo Conquest, 5 milhões de presos em 1937, antes das depurações no partido no exército e no estado terem começado. Depois das depurações começarem, vieram, segundo Conquest, durante 1937-38, mais 7 milhões de presos, o que faz um resultado de 12 milhões de presos nos campos de trabalho em 1939! E não esqueça o leitor que estes 12 milhões do Conquest são SOMENTE os presos políticos! 

Nos campos de trabalho havia também criminosos de delito comum, os quais, segundo Conquest seriam em número muito maior que os presos políticos. Isto significa que, segundo Conquest havia cerca de 25-30 milhões de presos nos campos de trabalho na União Soviética. Também segundo Conquest foram executados em 1937-39 um milhão de presos políticos enquanto que 2 milhões morreram de fome. 

Resultado final das depurações de 1937-39 segundo Conquest, 9 milhões de presos políticos e 3 milhões de mortos! Estes números foram em seguida submetidos a "apreciações estatísticas" por Conquest para concluir que os bolcheviques tinham morto nada menos que 12 milhões de presos políticos entre 1930 e 1953. Juntando esses números aos mortos de fome nos anos 30, chega Conquest à conclusão de que os bolcheviques haviam morto 26 milhões de pessoas. Numa última apreciação estatística diz Conquest que em 1950 havia 12 milhões de presos políticos na União Soviética! 

Alexander Solzhenitsyn utilizou mais ou menos as mesmas apreciações estatísticas que Conquest. Mas usando os métodos pseudo-científicos com outras premissas, chega ainda a conclusões mais extremas. Solzhenitsyn aceita os números de Conquest de 6 milhões de mortos na fome de 1932-33; no entanto, com respeito às depurações de 1936-39 considera que morreram no mínimo 1 milhão por ano! Fazendo um resumo, diz-nos Solzhenitsyn que desde as coletividades da agricultura até à morte de Stalin em 1953, tinham os comunistas morto 66 milhões de pessoas na União Soviética. Além disso aponta o governo soviético como culpado pela morte de 44 milhões de russos que ele afirma terem morrido na segunda guerra mundial. A conclusão de Solzhenitsyn é que "110 milhões de russos morreram vítimas do socialismo". No que diz respeito a presos diz-nos Solzhenitsyn que o número de pessoas nos campos de trabalho em 1953 era de 25 milhões!

A coleção de números fantásticos acima apresentada, um produto de fantasias muito bem pagas, tem saído na imprensa burguesa desde os anos 60, tendo esses números sempre sido apresentados como fatos verdadeiros obtidos na base de métodos científicos. Por detrás desta falsificação estão as polícias políticas ocidentais, principalmente a americana CIA e a inglesa MI5. O impacto das mídias de massa na opinião pública é tão grande que os números hoje são ainda considerados verdadeiros em grandes camadas das populações dos países ocidentais. 

Esta situação penosa tem piorado. Na própria União Soviética onde Solzhenitsyn e outros críticos conhecidos, como Andrei Sacharov e Roy Medvedev, não encontravam nenhum apoio para os números fantásticos, houve uma mudança significativa em 1990. Na nova "imprensa livre" durante Gorbatchov, tudo o que se opunha ao socialismo era apresentado como positivo, o que teve consequências desastrosas. Uma inflação sem igual começou a aumentar a quantidade de mortos e presos durante o socialismo, que agora se misturavam num só grupo de dezenas de milhões de "vitimas" dos comunistas. 

Os relatórios da investigação do sistema corretivo soviético são expostos num trabalho com cerca de 9 000 páginas. Os investigadores que escreveram os relatórios são vários sendo os mais conhecidos os historiadores russos V.N. Zemskov, A.N. Dougin e O.V. Xlevnjuk. O seu trabalho foi começou a ser publicado em 1990, estando em 1993 praticamente acabado e totalmente publicado na Rússia. Os relatórios da investigação chegaram ao conhecimento do ocidente em colaboração com investigadores de diversos países ocidentais. As investigações dos historiadores russos revelam uma realidade totalmente diferente da que tem tem sido ensinada nas escolas e universidades do mundo capitalista durante os últimos cinquenta anos. 

Durante esses cinquenta anos de guerra fria têm várias gerações aprendido só mentiras sobre a União Soviética e isto tem deixado marcas profundas em muitas pessoas. Este fato constatado também se verifica nos relatórios dos investigadores franceses e americanos. Nestes relatórios são-nos dados números e tabelas de presos e mortos, discutindo-se esses números num trabalho de grande amplitude. Mas o principal e mais importante, isto é, os crimes praticados pelos presos, nunca é alvo de uma discussão séria! 

A propaganda política dos capitalistas tem-se referido sempre aos presos na União Soviética como sendo vítimas e os investigadores utilizam este termo sem pôr em questão a sua veracidade. Quando os investigadores passam das colunas de estatística aos comentários sobre os acontecimentos, vêm as concessões burguesas à luz e o resultado é por vezes macabro. Os condenados no sistema correcional soviético são chamados vítimas, mas o fato é que a maioria eram ladrões, assassinos, violadores, etc. Criminosos deste calibre nunca seriam tratados como "vitimas" na imprensa se os crimes fossem cometidos no restante da Europa ou nos EUA. Mas como os crimes foram cometidos na União Soviética tudo é possível. Chamar "vítima" a um assassino ou violador que repete o crime é coisa muito suja. Uma tomada de posição pela justiça soviética no que diz respeito aos criminosos de delito comum condenados por crimes violentos deveria de ser consequente, senão no tipo de pena pelo menos na questão da condenação do crime.

Mas ao número de pessoas abrangidas pelo sistema correcional tem que ser dada uma explicação mais concreta. A União Soviética era um país que recentemente tinha deixado o feudalismo e a herança social no que diz respeito ao valor humano era muitas vezes um peso para a sociedade. No sistema antigo com os Czares, os trabalhadores eram obrigados a viver numa miséria profunda e a vida humana não tinha muito valor. Roubos e crimes violentos eram punidos com uma violência sem limites. Revoltas contra a monarquia acabavam usualmente com massacres, condenações à morte e penas de prisão muito grandes. 

Estas relações sociais e a maneira de pensar com elas relacionada leva muito tempo a mudar, tendo isto influenciado o desenvolvimento da sociedade na União Soviética e também a criminalidade no país. Outro fator a ter em conta é que a União Soviética, um país que nos anos trinta tinha cerca de 160-170 milhões de habitantes, estava fortemente ameaçada por potências estrangeiras. Na base das grandes mudanças políticas na Europa na década de 1930, vinha a principal ameaça de guerra da Alemanha nazista, ameaça contra a sobrevivência dos povos eslavos, constituindo também as democracias ocidentais um bloco com intenções intervencionistas. 

Esta situação muito séria foi resumida por Stalin em 1931 com as seguintes palavras "Estamos atrasados entre 50 a 100 anos em relação aos países avançados. Temos que percorrer esta distancia em 10 anos. Ou o fazemos ou seremos arrasados". Dez anos depois, em 22 de Junho de 1941, a União Soviética era invadida pela Alemanha nazista e os seus aliados. A sociedade soviética foi obrigada a grandes esforços durante o decênio de 1930-40 sendo a maior parte dos recursos utilizados nos preparativos de defesa para a guerra contra os nazistas. 

Isto fez com que as pessoas tivessem uma vida de trabalho sem grandes compensações a nível pessoal. A reforma de 7 horas de trabalho diário teve que ser retirada em 1937 e em 1939 eram quase todos os domingos dia de trabalho. Num período difícil como este em que uma grande guerra determinou o desenvolvimento social durante duas décadas, 1930 e 1940, uma guerra que custou à União Soviética 25 milhões de vidas perdidas e metade do país em cinzas, aumentou a criminalidade quando as pessoas tentavam obter aquilo que a vida não lhe podia dar. Durante este tempo muito difícil na União Soviética havia como máximo 2,5 milhões de pessoas no sistema correcional ou seja 2,4 % da população adulta. Como se poderá avaliar este número? É muito ou pouco?

Que fique claro que eu não defendo o marxismo ou mesmo o comunismo. Porém, não posso me permitir a deixar que a falsa propaganda seja estimulada e utilizada com o fim único de perpetuar as mentiras, tanto de um lado quanto o de outro. A minha intenção não é a de defender o marxismo, muito pelo contrário! Quero justamente mostrar que o marxismo é apenas outra forma de controle, assim como o é o capitalismo! A ideia geral dos mantenedores do sistema é de que se as massas tiverem uma "escolha", mesmo sob condições extremamente adversas, elas não se revoltarão!

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