terça-feira, 16 de junho de 2015

INTELIGÊNCIA É SINÔNIMO DE RIQUEZA?

Algo que eu escuto com frequência: "é tão inteligente! Uma pena que não ganhe nada com esta inteligência toda. Nem um vintém!" 

Ou seja, a única utilidade para a nossa potente massa encefálica é a de fabricar dinheiro. Tudo muito bem, mas então o que explicaria tantos semi-analfabetos milionários? Ou os raros ganhadores do Nobel que vivem na penúria, por opção?

Veja bem, o meu problema não é exatamente com o dinheiro em si, como conceito. Pra mim o problema reside na forma com que é criado e "distribuído". Não sou contra o sujeito pagar R$1.000,00 em um tênis ou U$1 milhão em um iate. Eu sou contra o fato de que apenas alguns podem fazer isso. Todos nós queremos conforto, fartura, bonança. Não há nada de errado com isso.

Errado mesmo é o sistema, inclusive o educacional, nos convencer de que as possibilidades de ascensão financeira e social são rigorosamente idênticas para todos os sortudos habitantes do planeta Terra! Partindo deste princípio, nada mais natural supor que existem no mundo mais ou menos 6 bilhões de pessoas que não se esforçaram o suficiente para gerar real riqueza. 

Ora, se a pessoa nasceu na República Democrática do Congo, ou numa comunidade carente de qualquer país subdesenvolvido da América Latina, não importa. Pois os meios, ferramentas e incentivos estão todos ali, apenas aguardando que esta pessoa se esforce suficientemente para decolar rumo ao seu primeiro milhão de euros. Sim, euros, pois é muito mais chique que o superestimado dólar!

Digo isso tudo, porque sei que alguns pensarão com seus botões: "ah, lá vem ele de novo. Fala que é trabalho, mas não ganha um centavo pra escrever este monte de coisas", e alguns dirão isso mesmo em voz alta. Mais uma inversão de valores, pois o trabalho, antes de qualquer coisa, deve ser um prazer, antes de uma obrigação, um fardo.

Eu trabalhei muito na minha vida. Fiz de tudo um pouco, desde acordar de madrugada pra fazer compras na CEASA, passando por vender cachorro quente, ou mesmo abrir portas para gente endinheirada. Tive empregos em que eu trabalhava mais de 12 horas por dia, seis dias por semana.Já gerenciei negócios que faturavam alto. Fui chefe de grandes grupos, com mais de 30 pessoas, onde gerenciar o caos era a ordem do dia. Já montei negócios próprios, que acabaram redundando em estrondosos prejuízos.

Sabe por quê? Porquê não dou a mínima pra dinheiro e tudo aquilo que ele representa. Eu não sei lidar com dinheiro. Pra mim, o dinheiro é o mais perfeito grilhão social já inventado neste planeta! Costumo dizer que hoje vive-se muito bem inclusive sem Deus, mas não se vive sem dinheiro. O dinheiro permeia tudo, é a razão de tudo, a origem de todos os males deste mundo. O excesso dele permite que uma minoria diminuta controle o restante da população, mantendo um jugo opressor disfarçado de liberdade, com direito a justiça e boas doses de diversão. A falta de dinheiro gera as maiores mazelas sociais, como fome, miséria, doença, morte.

Existe um meio termo? Poderemos algum dia trabalhar sem a sensação de estarmos sendo explorados e roubados? Nosso trabalho terá algum significado, além daquele implícito no valor monetário daquilo tudo que produzimos com nosso esforço e suor?

Acha que eu tô exagerando? Bem, tomemos as palavras de Karl Marx, lembrado sempre como o culpado maior pelo comunismo, mas que através de seus escritos estabeleceu as relações entre empregadores e empregados: "Ao comprar a força de trabalho do operário e ao pagá-la pelo seu valor, o capitalista adquire, como qualquer outro comprador, o direito de consumir ou usar a mercadoria comprada. A força de trabalho de um homem é consumida, ou usada, fazendo-o trabalhar, assim como se consome ou se usa urna máquina fazendo-a funcionar. Portanto, o capitalista, ao comprar o valor diário, ou semanal, da força de trabalho do operário, adquire o direito de servir-se dela ou de fazê-la funcionar durante todo o dia ou toda a semana. A jornada de trabalho, ou a semana de trabalho, têm naturalmente certos limites. O valor da força de trabalho se determina pela quantidade de trabalho necessário para a sua conservação, ou reprodução, mas o uso desta força só é limitado pela energia vital e a força física do operário. O valor diário ou semanal da força de trabalho difere completamente do funcionamento diário ou semanal desta mesma força de trabalho, são duas coisas completamente distintas, como a ração consumida por um cavalo e o tempo em que este pode carregar o cavaleiro. A quantidade de trabalho que serve de limite ao valor da força de trabalho do operário não limita de modo algum a quantidade de trabalho que sua força de trabalho pode executar."

Com base nesse pequeno trecho, podemos perceber que a mentalidade capitalista defende antes o direito do empregador sobre o empregado, sendo permitido que o primeiro usufrua dos esforços do segundo quase à exaustão! Nosso cotidiano atual se resume a uma busca frenética pelo dinheiro. O dinheiro é nossa ração para cavalo! 

Tenho total consciência de que algum dispositivo deve ser empregado para controlar o excedente produtivo, e para a troca de bens e serviços. Porém, o dinheiro deixou de representar este dispositivo faz muito tempo. Hoje, ele não é mais uma simples ferramenta; ele passou a ser o fim, a meta de todos os esforços empregados pela sociedade. Mas estranhamente, apesar de tantas pessoas no mundo todo buscarem este mesmo objeto, poucas pessoas são capazes de adquirir em grandes quantidades. Por que isso se dá? Existe pouco dinheiro no mundo? Todas estas pessoas não se esforçaram o suficiente? Ou é meramente um fator de sorte ou azar? 

Hoje já não importa nossa capacidade de gerar o bem, mas sim o quanto somos capazes de produzir, e a transformação de nosso esforço laboral em valores financeiros. Não somos máquinas, não somos cavalos, não somos escravos. Sim, o dinheiro é importante, mesmo necessário, mas não deve jamais nos definir como espécie ou sociedade. E infelizmente, permitimos que se chegasse a este ponto, onde a quantia de dinheiro que portamos indica até onde podemos chegar como ser humano inserido dentro de um sistema social. 

E pensar que o sistema irá corrigir estas incoerências é pura demonstração de ingenuidade; aqueles que controlam a emissão e a circulação do dinheiro, jamais tomarão a iniciativa de reduzir seu próprio lucro, unicamente em favorecimento do bem estar da maioria da população. Isso é o oposto daquilo que hoje o dinheiro representa. Entenda, definitivamente, que estas mesmas pessoas que possuem as maiores riquezas do mundo, não dão a mínima pra você, seus sonhos, desejos, necessidades. Somos um efeito colateral da geração de riqueza, somos o extrato, o bagaço da fruta. 

E enquanto esperarmos que estas pessoas mudem nossa realidade, continuaremos agrilhoados pelas mesmas mentiras. Aquelas que falam sobre crise, inflação, desemprego, taxas de juros, tudo didaticamente propagado pela mídia interessada. Por que interessada? Porque os donos desta mídia são os mesmos que imprimem e distribuem dinheiro como se fosse uma benção.

Se eu tenho alguma saída? Claro que não! Ora, eu não terminei nem mesmo o ensino fundamental, e ainda quer que eu modifique o mundo? Não, né?! Mas em compensação, eu, sendo este retumbante fracasso financeiro, completamente desinserido daquilo que o sistema impõe, ainda assim consigo perceber que há algo de muito errado nessa corrida pelo maior bem da humanidade; então, o que dizer dos técnicos, economistas, banqueiros, corretores? Se eu, sendo este desastre econômico, tenho a perspicácia de notar que algo não vai bem, como explicar que tantos profissionais não notem estas mesmas indicações? E se algo não vai bem, em termos de economia, seja ela micro ou macro, a quem cabe a responsabilidade? A culpa da inflação é nossa? A culpa dos juros altos é nossa? A inadimplência alheia é culpa de todos?Se não somos nós mesmos, trabalhadores honestos e esforçados, que através de nossos próprios esforços e capacidade de compra através de nossa parca renda, os culpados pela miséria mundo afora, então a quem cabe esta culpa? O fato é que vivemos de uma maneira que foi estabelecida a nossa revelia. E esta maneira com a qual o mundo caminha hoje, está nos levando a um colapso que afetará não só o mercado financeiro, mas também o meio ambiente. 

Mas mesmo isso não modifica o julgamento de quem domina o dinheiro no mundo. Ou você acha que em caso de algo mais sério ocorrer em nosso planetinha, os primeiros a perecer serão os honrosos membros desta diminuta elite? Às vezes eu acho que a elite vai sobreviver inclusive ao Apocalipse...

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